O
nascimento dele cumpria uma profecia, mas isso não era de se estranhar naquela
tribo. O Oráculo da tribo era particularmente prolífico com suas adivinhações
e, como os bárbaros não eram capazes de diferenciar uma adivinhação de uma
profecia verdadeira, todos os dias eram proféticos, seja porque o Oráculo havia
dito que iria chover, seja porque ele havia dito que surgiria, depois de meio
século, o líder que ergueria o nome da tribo para a glória, nascendo em sangue
e realizando sua primeira morte apenas com sua presença.
Quando
ele veio ao mundo, tinha pouco mais que duas vezes o tamanho de uma criança
normal. Sua mãe morrera no meio do parto, suas partes não aguentando o tamanho
descomunal da criança. Quando o pai dele chegou com uma espada para abrir o
ventre da mãe, descobriu que a parteira havia conseguido retirá-lo de dentro do
cadáver ainda fresco da jovem mulher. Havia nascido em sangue, e sua presença
havia matado sua mãe. Conforme o Oráculo havia dito em sua juventude.
Houve
risos e lágrimas, alegria e tristeza. A tribo estava em festa. Haviam capturado
no dia uma rica caravana que se atrevera a atravessar a parte rochosa do
deserto para chegar à capital. Para chegar à Horizonte. Os mais ricos vinhos e
as mais requintadas comidas foram servidos, para comemorar o nascimento de
Petraack, o Gigante, e honrar a morte de Esposa do Líder, e o líder havia
eleito outra mulher de seu harém para ser sua esposa. A vida continuaria sem
problemas. Os bárbaros do deserto eram famosos por suportar tudo.
Os
anos se passaram sem muitos problemas até que começaram o treinamento com as
armas, aos seis anos. Petraack já tinha o tamanho de uma criança de dez, e era
mais forte do que a maioria das crianças de dez. Era capaz de falar sem
problemas, mas contar não era seu forte. Pelo menos depois que passava de
cinco. Mas isso não era o suficiente para tratá-lo por burro. Ele tinha uma
espécie de instinto em combate que lhe dizia o que fazer. Infelizmente isso só
foi descoberto quando ele matou outra criança no treino. A arma de madeira havia
se partido com o poderoso golpe da criança grande, diretamente no pescoço da
menor, partindo junto os ossos em um estalo alto e molhado. Ele era incapaz de
controlar sua força. Enquanto todos os guerreiros do deserto lutavam com graça
e agilidade, Petraack era todo brutalidade e velocidade.
Aos doze, ele tinha o tamanho de um homem completamente crescido. Ao invés das espadas curvas típicas da tribo, seu pai havia lhe dado um pesado machado feito de ouro. O Oráculo da Tribo havia encantado o ouro para que se tornasse duro como o aço forjado. Cumprindo, segundo ele mesmo, outra parte da profecia.
Aos doze, ele tinha o tamanho de um homem completamente crescido. Ao invés das espadas curvas típicas da tribo, seu pai havia lhe dado um pesado machado feito de ouro. O Oráculo da Tribo havia encantado o ouro para que se tornasse duro como o aço forjado. Cumprindo, segundo ele mesmo, outra parte da profecia.
Aos treze, por ter enfrentado e
derrotado em combate dois homens adultos, lhe foi permitido que saísse com os
salteadores. Foi uma era de ouro para a tribo. Ele parecia farejar as
caravanas, via rastros onde mais ninguém era capaz, e a despeito de estar
beirando dois metros, era furtivo como um gato. Havia deixado o cabelo crescer
e os prendia em dreadlock, dando uma aparência ainda mais selvagem para sua
pele tão escura que parecia azulada, sempre coberta de óleos aromáticos.
Parecia não sentir o calor do sol. Enquanto caçava, não tinha fome nem sede. O
sol brilhava mais forte para ele. Aos catorze já havia capturado sua primeira
mulher, mas ela não suportou a gravidez subsequente, morrendo junto com a
criança.
Quando ele finalmente chegou à maioridade, ele beirava os dois metros e meio e pesava mais de duzentos quilos, seus músculos eram inchados e não havia armadura de metal que lhe servisse. Não usava escudo, apenas seu machado de ouro que, estranhamente, havia crescido junto com ele. O Oráculo havia profetizado que aquele machado era originalmente de um deus esquecido, e que seu poder cresceria a cada morte. Petraack tinha onze mulheres, havendo superado o próprio pai e oito delas estavam em diferentes estágios de gravidez. Até o fatídico dia.
Quando ele finalmente chegou à maioridade, ele beirava os dois metros e meio e pesava mais de duzentos quilos, seus músculos eram inchados e não havia armadura de metal que lhe servisse. Não usava escudo, apenas seu machado de ouro que, estranhamente, havia crescido junto com ele. O Oráculo havia profetizado que aquele machado era originalmente de um deus esquecido, e que seu poder cresceria a cada morte. Petraack tinha onze mulheres, havendo superado o próprio pai e oito delas estavam em diferentes estágios de gravidez. Até o fatídico dia.
Ele
havia encontrado uma fissura e sua intuição lhe dizia que havia ouro nela. Ele
manda seus homens voltarem e procurarem caravanas. Queria a glória só para ele
dessa vez. Ele avança com dificuldade, afinal, seu tamanho o impedia de ir
tranquilamente. Usava uma espada curta que fazia as vezes de adaga em sua mão,
pois não conseguiria balançar o seu machado para nada.
O
caminho seguia numa descida que parecia ficar cada vez mais íngreme, até que o
bárbaro estava usando o tamanho de seu corpo para evitar escorregar e cair. A
luz já não mais o alcançava, e o ambiente claustrofóbico o estava deixando
irritado e com dificuldades para respirar. Até que, olhando para baixo, viu uma
luz tênue. Não era a luz bruxuleante do fogo, mas uma luz firme, mas ainda
assim diferente da luz do sol de alguma forma. Aliviado por finalmente
encontrar luz, ele se deixa cair devagar até que sente que seus pés não têm
mais apoio. Olha para baixo com dificuldade e percebe que o chão estava próximo
o suficiente para que se deixasse cair. Com cuidado, o pequeno gigante vai
descendo, apoiado pelos braços e pelas costas, nas paredes próximas, a espada
curta já de volta na bainha, e o machado pendendo estranhamente na frente do
peito, para evitar machucar as costas.
Finalmente
se irritando com o incômodo machado, ele solta a correia que o segurava e deixa
o machado cair, o que faz com que o barulho se repita, graças ao eco, pelo o
que Petraack descobriu ser uma estrutura assim que caiu no chão, ao lado de sua
preciosa arma. O barulho ainda ecoava pelos corredores distantes, o que fez
Petraack se arrepiar com a excitação de uma nova aventura.
Ele
olhou ao redor, abismado com o corredor reto, quadrado, maior do que seus
braços abertos, e mesmo sua cabeça tinha alguma distância do teto. Quase o
tamanho de dois homens, tanto em largura quanto em altura. O bárbaro não tinha
muita certeza de qual seria o chão e o teto, exceto que ele pisava em um e o
outro estava sobre sua cabeça, mas não havia diferença estrutural entre os
dois. Ambos possuíam um estranho padrão em baixo relevo, como runas, mas não
era nada que lhe parecesse feito pelos anões. Pareciam organizadas marcas de
garras, esculpidas na pedra com maestria. A luz que ele vira anteriormente,
eram as runas que brilhavam com uma luz branca pura, iluminando o lugar como um
todo, de forma que ele não compreendia totalmente. Mesmo com a luz, ainda havia
uma penumbra, como se a luz branca não fosse forte o suficiente para iluminar
tudo.
Ele
estava confuso, pois não se recordava de nenhuma estrutura que houvesse sido
feita ou descoberta desde que sua tribo era a sua tribo. O Oráculo havia
contado histórias sobre guerras entre os deuses o que havia desertificado o
mundo, e que os escolhidos, como aquela tribo, moravam mais perto do coração da
batalha. A morte dos deuses havia tornado o deserto instável e muitas coisas
estranhas apareciam eventualmente, mas nunca houve nenhuma estrutura, pelo
menos não como essa, devolvida pelo Oceano de Areia.
O bárbaro avança, seu fiel machado dourado displicente em uma das mãos. Observava com interesse renovado o local, seguindo adiante até que chega em um ponto onde havia ocorrido um desabamento. Talvez o mesmo que criara a fenda pela qual ele entrou. Em nenhum momento ele pensou em métodos para sair dali. Em alimentos ou água. Estava intrigado pelas estranhas runas em um idioma diferente. Não que ele soubesse ler em seu próprio idioma. Sempre julgou tal coisa desnecessária e somente agora se deparara com a vontade de saber o que havia escrito em uma superfície. Pensou em arrastar o Oráculo até ali para que lhe dissesse o que estava escrito. O que queria dizer. Virando as costas para o desabamento, ele avança na outra direção, eventualmente passando pela fenda pela qual entrara. Seria muito difícil passar por ali novamente.
O bárbaro avança, seu fiel machado dourado displicente em uma das mãos. Observava com interesse renovado o local, seguindo adiante até que chega em um ponto onde havia ocorrido um desabamento. Talvez o mesmo que criara a fenda pela qual ele entrou. Em nenhum momento ele pensou em métodos para sair dali. Em alimentos ou água. Estava intrigado pelas estranhas runas em um idioma diferente. Não que ele soubesse ler em seu próprio idioma. Sempre julgou tal coisa desnecessária e somente agora se deparara com a vontade de saber o que havia escrito em uma superfície. Pensou em arrastar o Oráculo até ali para que lhe dissesse o que estava escrito. O que queria dizer. Virando as costas para o desabamento, ele avança na outra direção, eventualmente passando pela fenda pela qual entrara. Seria muito difícil passar por ali novamente.
Petraack
sorri seu sorriso feroz e avança, observando atentamente as runas que pareciam
mudar conforme avançava. Agora definitivamente pareciam as runas anões, e
vários metros de corretor reto e sem declive depois, era uma caligrafia fina
que ele nunca tinha visto. Ele hesita um pouco quando os três tipos de letras
aparecem em repetições de símbolos que ele não conseguia identificar, a luz
passa de branca para amarela e metros depois, para vermelho. Ele não mais via
direito, a luz vermelha dificultando sua visão, como se ela iluminasse menos,
embora os símbolos fossem mais brilhantes do que os brancos quando observados.
Ele
continua o caminho até que chega em uma grande câmara. Seus olhos se iluminam
com o brilho vermelho refletido em ouro. Muito ouro. Muito mais do que todo o
ouro que ele já vira em toda a sua vida. Em diversos montes, na forma de
moedas, de barras, de cordões e jóias. Armas de aço e ferro e metais que ele
não conhecia. Armaduras. Quadros. Tapeçarias. O tesouro de um reino reunido no
imenso aposento. Petraack não conseguia ver o teto, as runas se tornavam
indistintas conforme avançavam. Via somente que no meio da sala havia algo
estranho. Machado na mão, ele se aproxima cauteloso.
Não exatamente furtivo, pois jamais vira muita necessidade nisso. Quando chega perto, desviando de montes de ouro e jóias maiores do que ele, percebe uma superfície opaca. As runas em seu machado brilham como mil sóis por um momento, o cegando por vários minutos. O machado vibrava em sua mão cada vez mais forte, mas ele mantinha-o seguro.
Não exatamente furtivo, pois jamais vira muita necessidade nisso. Quando chega perto, desviando de montes de ouro e jóias maiores do que ele, percebe uma superfície opaca. As runas em seu machado brilham como mil sóis por um momento, o cegando por vários minutos. O machado vibrava em sua mão cada vez mais forte, mas ele mantinha-o seguro.
Sua
mão apertada enquanto as runas começavam a produzir um som que ressoava com a
vibração do machado. Cada vez mais agudo, até que ele não mais ouvia o som, mas
algo em seu corpo, na forma que o machado vibrava, que o ar vibrava, mostrava
que o som estava além de sua capacidade de ouvir. E a superfície opaca racha. O
machado para de vibrar e as runas perdem sua cor e seu brilho. Escuridão total.
Ele ouve o barulho de rachaduras
se alastrando e um barulho de algo quebrando. Um medo estranho e irracional lhe
toma o peito. Sua mão treme pela primeira vez. Ele não entendia o motivo. Nunca
teve medo do escuro antes, e não via motivos para ter agora. Estende a mão para
frente e a superfície opaca não estava mais lá. Por algum motivo que ele não
compreendia, o medo aumentou ainda mais. Nublava seus pensamentos. Lágrimas
começaram a correr sem suas ordens. Sua mente não mais comandava o próprio
corpo e seus joelhos cederam, indo de encontro ao chão quando sentiu o líquido
quente lhe escapar da bexiga.
Um rugido desumano lhe tira a consciência, o medo finalmente lhe entregando a um negrume diferente da simples ausência de luz. Uma inconsciência atormentada, inicialmente, pelo mesmo medo sem motivo e lógica que o desmaiara. Monstros horríveis desfilavam como donos do rugido. Até os pesadelos vão diminuindo de intensidade e ele vai para a inconsciência normal e abençoada.
Um rugido desumano lhe tira a consciência, o medo finalmente lhe entregando a um negrume diferente da simples ausência de luz. Uma inconsciência atormentada, inicialmente, pelo mesmo medo sem motivo e lógica que o desmaiara. Monstros horríveis desfilavam como donos do rugido. Até os pesadelos vão diminuindo de intensidade e ele vai para a inconsciência normal e abençoada.
Quando
ele finalmente acorda, sente a luz forte do sol em seu rosto. Sua boca seca
como nunca antes. Pega seu cantil feito de couro de algum animal cujo nome não
se recordava e bebe o pouco que ainda tinha. Precisava retornar para aldeia.
Estava se sentindo fraco, mas sem nenhum sinal daquele medo debilitante. Olha
para suas vestes, fétidas pela urina e por coisas piores que medo havia trazido
à tona e se desfaz da roupa. Mantém somente suas jóias. Suas braçadeiras, um
pesado cordão de ouro e seu machado. Seu fiel machada.
Ao
olhar atentamente para o objeto, percebe que haviam novas runas cravadas nele.
E havia uma presença que ele não conseguia identificar prontamente. Como se o
machado estivesse dormindo. Por mais estranho que fosse esse pensamento.
Começa
o longo caminho para a aldeia, nu e com o sol brilhando em sua pele negra, mal
sentindo o calor que faria outros homens morrer. Depois de meio dia de
caminhada ele chega ao local onde deveria estar sua aldeia. Ainda não haviam
chegado, o que era estranho, mas ele segue seu caminho, fazendo o caminho
inverso para encontrar a aldeia que vagava pelo deserto. A noite havia caído e
ele ainda não encontrara nem traço de sua casa. Encontra algo para comer e come
cru, do jeito que estava. Espreme água de algumas ervas que encontrou por baixo
da areia, coisas que somente os mais treinados conseguiria fazer e segue sem
descansar.
Depois
de dois dias encontra o que buscava. Mas não no estado que esperava.
A
areia ainda estava vermelha com o sangue de seus companheiros, mas não havia
nenhum corpo. Nenhum corpo reconhecível. Pedaços desencontrados com marcas que
ele reconhecia como dentes, mas que nenhum animal possuía tamanho para ter.
Faixas da areia estava vitrificadas, como se uma chama gigantes houvesse
varrido o local. Ou que uma das raríssimas tempestades de raios houvesse
passado e escolhido exatamente a aldeia para ser vitimada. Vai até o local onde
ficaria sua própria cabana e encontra tudo revirado. O tecido rasgado para que
pudesse ser visto de fora e de cima. E a areia ainda vermelha com o sangue de
seus companheiros.
Ele grita de fúria e dor. Mas seu
grito é ecoado com outro somente de fúria. Somente depois ele percebe a segunda
voz o acompanhando. Olha em volta assustado até que percebe a presença. No
machado. E a última coisa que se lembra é pegar no machado e ouvir um sussurro:
- Desculpe, mas seu corpo é meu. Eu preciso terminar a missão.
- Desculpe, mas seu corpo é meu. Eu preciso terminar a missão.
0 comentários:
Postar um comentário