quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Guerreiro e o Mago


        O cheiro de ar parado há muito tempo não o incomodava. Era revigorante. Passa a mão na parede de pedras encaixadas e observa o lugar. Ainda havia luz da porta, então sua visão ainda possuía cores, embora mais ao fundo, onde a luz não chegava, o preto e o cinza começavam a dominar. Ele via onde não havia luz, mas não havia surpresa nisso. Todos os anões viam.
         Passa a mão na barba bem cuidada, os fios loiros bem cuidados e presos com anéis de ferro, ouro ou prata, formando uma intrincada trança. Ele tinha um metro e trinta de altura e possuía um peitoral largo e braços e pernas grossas. Quase que totalmente recoberto por uma pesada armadura de um metal escuro. Uma armadura de batalha completa, mas sem o elmo.Seu escudo, preso firme ao braço esquerdo, era feito de um metal mais claro. Como se fosse feito de prata. Suas armas traziam a mesma cor da armadura. Na sua mão direita, um machado recoberto com com uma fina camada de gelo. Runas azuladas brilhavam em sua lâmina, e o símbolo que estava estampado no peitoral da armadura e no meio do escudo também encontrava sua vez no meio do machado: o desenho de uma nuvem e um raio. De sua cintura, pendia um pesado martelo, do mesmo metal negro e com o mesmo símbolo, mas sem as runas que destacavam o machado. Nas suas costas, uma besta, a única coisa de madeira que parecia carregar. Levava também uma mochila com algumas runas inscritas e que tinha um especto de cheio.Tinha os olhos cinzentos como aço, e trazia um leve sorriso no
rosto.
         - Trabalho porco. - Ainda encarando as pedras. - Nitidamente é trabalho humano. Maldito o dia que eles começaram a lapidar pedras. Completamente incapazes de construir algo decente... - E avança, ainda resmungando, sem preocupação com o barulho. Era mais silencioso do que se esperaria de alguém vestindo tanto metal, o que mostrava que era um guerreiro experiente, ao se mover sem problemas aparentes.
Assim que sai do hall de entrada da ruína, a escuridão é total, e sua visão fica completamente em preto, branco e tons de cinza. O cheiro de mofo ficava mais forte, e as teias de aranha, muito mais frequentes. Olha um tanto quanto ressabiado para elas, mas pareciam normais. Detestava aranhas desde a vez que uma aranha de quase três metros havia roubado um antigo companheiro de aventuras. Havia pego o martelo na ocasião. Ele tinha sido o presente para um amigo, feito por ele. Um Mestre Armeiro Anão, pelos deuses! E aquele maluco havia morrido para uma simples aranha. Quem diria que os humanos eram tão frágeis. Somente algumas picadas de uma aranha gigante e ele fora ver os deuses. Nada mais justo que o forjador do martelo o carregasse depois da morte do amigo.
Afasta os pensamentos enquanto vasculha sala por sala. Algumas portas estavam podres e só precisavam de uma ou duas marteladas para cederem completamente, mas não via nada de útil. Diversos restos do que talvez tivessem sido pergaminhos. Um símbolo se repetia com certa constância. O símbolo do Destino. Havia algo de estranho no lugar. O Destino era bondoso, mas aquele templo em específico parecia abandonado há séculos. Uma época onde os Elfos de Dulbien não haviam atacado. Uma época antes da Guerra das Sombras. Pelos deuses! Esse templo poderia ter milênios de idade. Ele passa a mão na barba. Havia conseguido chegar a essa conclusão simplesmente porque era um Mestre Anão. Tinha consciência de que era um Mestre Anão. Armeiro ainda por cima. Algo não cheirava bem. Ele vasculha a última sala, mas não encontra nada. Até que olha para a estátua.
Não era trabalho humano. Era bem feito demais. Mas seu olhar crítico, como todo o Mestre Armeiro Anão, havia detectado falhas. Enfeites desnecessários. Um excesso de frescura. Trabalho de elfos. Sua intuição anã lhe dizia que havia algo de estranho na estátua. Seus olhos treinados por décadas entre os anões lhe diziam que algo de errado não estava certo. Ele sorri com o pensamento. Retira a espada da mão da estátua. Algo com runas elegantes e finas. Trabalho elfo. Elfos tinham Mestres Armeiros? Ele afasta novamente o pensamento. Era perigoso se aventurar sozinho por isso. Sempre divagava.
A estátua se move, e sua mão busca o machado: o adamante de sua composição o deixava perfeito para lutar contra estátuas. Raras eram as que não se feriam com ele. Coloca o escudo na frente do corpo, preparando-se para receber a pancada e derrubar o oponente com um contragolpe, mas ela simplesmente se afasta, enquanto um mecanismo completamente silencioso vai mostrando uma escada descendo, onde antes descansava a estátua.
Arisco, como todo Mestre Armeiro Anão, ele passa o machado no momento em que algo aparece, subindo a escada outrora oculta.
- Filho da puta! - A voz era melodiosa, não humana de alguma forma, mas sem o belo tom grave encontrado entre os anões. Estava mais para o afeminado tom de voz élfico, mas não tão fino. Ulfric, o Mestre Armeiro Anão, olha antentamente para o recém chegado. Possuía os olhos totalmente brancos, cabelos escuros e um físico constituído, embora distante da montanha de músculos que ele era. Concessão: colina de músculos. Ele havia desviado como que por instinto do golpe, suas mãos logo brilharam com um fogo que não parecia feri-lo. Pequenas esferas de luz o seguiam e só agora iluminavam o anão em sua couraça escura. Seus olhos se estreitaram quando viram as runas no machado, na armadura e no escudo, em um conjunto perfeitamente harmonioso, o trabalho de um Mestre. Armeiro Anão, não podia esquecer nunca.
- Pelas barbas do Profeta! - Sua voz era grave, linda obra dos deuses. A voz de um anão. - Mago, você é herói ou vilão? - A postura dele já não era mais tão agressiva, mas estava pronto a acertar o mago com o machado, caso houvessem gestos ou palavras complexas.
O sujeito pareceu confuso por um momento, mas sua voz vinha carregada de auto-confiança.
- Não sou um mago, mas posso me considerar um herói.
- Palavra de anão, meio-elfo?
- Não sou um meio-elfo! Sou um suli!
- Palavra de anão, mago?
- Palavra de anão... - O sujeito parecia vencido pelo cansaço, mas trazia um sorriso no rosto.
- É o seu dia de sorte, mago! Eu preciso de um companheiro de aventuras. Sou um mercenário conhecido por ser um Mestre Armeiro Anão. Posso te fazer armas e armaduras com desconto! E você pode me fazer itens mágicos que não sejam armas e armaduras. - Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo. - Vamos para a cidade procurar trabalho. Aparentemente já resolvemos nosso primeiro caso. Você pegou o cetro mágico?
- Ah... - Ele vasculhava em sua mochila até que pegou um cetro de ouro finamente trabalhado, com o símbolo sagrado da Deusa da Morte. - Esse?
- Esse mesmo! - Ele gargalha. Agora tudo ficaria mais divertido. - Vamos receber nossa recompensa!
Ambos saem do templo, com o anão reclamando da arquitetura e do caminho e do céu e do que mais pudesse colocar os olhos. A cidade era a uns dois dias de caminhada, nada demais para aventureiros consumados.
- Eu também conheço um sátiro que é um bardo... - diz o Suli Feiticeiro.
- Ótimo! Só precisamos de um ladrão e de um clérigo!
E o mundo ainda irá chorar por causa desse encontro.

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