Eu
sei que ninguém vai acreditar nisso. Eu mesmo quase não acredito. Assim, da
boca para fora, muita gente diz que acredita... Mas eu percebi os olhares de
condescendência que me lançam quando eu conto isso. Exceto por alguns malucos na
internet que tentavam até marcar encontros comigo para procurar eventuais
marcas ou cicatrizes. Mesmo quando eu afirmava não ter marca nenhuma.
Fanáticos. Eu estava muito bem servido: ou me achavam maluco, ou os malucos me
achavam são. Bom... Eu não deveria julgar eles. Estou fazendo exatamente o que
os outros fazem comigo. Vai que algum deles é uma pessoa equilibrada? Vai que
eu só estou com medo de tudo o que eu vi? Eu pesquisei na internet e vi que a
maioria das pessoas não se lembra quando acontece algo do gênero... Mas eu me
lembro. Lembro de tudo.
Estava
eu andando de noite, voltando para a Ilha do Governador. Eu sabia que era
distante, mas minha moto havia quebrado. Deixei ela na casa de um amigo e vim
andando mesmo, a despeito da insistência para que eu dormisse lá. O caminho de
Tubiacanga até a Ilha era longo. Porra, Tubiacanga ficava na Ilha, mas era
afastado. Era a nossa pequena área rural. A gente sempre brincava falando que
ficava no Acre, em Atlântida ou em Lemúria... Nos lugares esquecidos por Deus e
o mundo. A gente falava que eles eram isolados assim como o resto do Rio falava
que a Ilha era isolada. A última kombi já tinha ido, então ou eu ficava lá ou
andava. Andava bastante. Como já disse eu resolvi andar. Desculpem eu ficar me
repetindo. Minha cabeça não anda legal desde aquele dia.
Eu
estava andando na estrada de terra que levava para as Canárias. Mato de um
lado, mato do outro. Estava escuro porque era lua nova. Ou era minguante. Não
lembro direito. Só sei que estava muito pequena. Eu já estava andando há mais
de uma hora, resmungando sobre qualquer que fosse o motivo que tinha levado o
pai do meu amigo a levar o carro com ele. Até que uma luz forte começou a
aparecer. Eu achei que fosse um carro. Até esperava por uma carona, já que a
luz parecia estar vindo de trás. Vai que o Francisco conseguiu o carro do
vizinho emprestado? Francisco é o nome do meu amigo...
Eventualmente
eu olhei para trás, porque não estava ouvindo barulho de carro, mas não tinha
nada diretamente atrás de mim. Mas tinha alguma coisa voando. Ela planava na
verdade. Só com uma luz branca me iluminando. Eu não consegui ver direito como
era, porque a luz tampava a minha visão. Mas eu vi alguns reflexos dourados
quando a coisa se moveu para cima de mim. Eu estava no meio de um círculo de
luz. Meu coração estava disparado. Eu sempre disse que acreditava em vida fora
da Terra, mas nunca acreditei que fosse ver um dia. Nunca levei muito a sério as
histórias sobre abduções e tal. Minha boca estava seca e eu comecei a correr. De
início eu corri pela estrada mesmo, desesperado, mas por mais que o chão se
movesse sob os meus pés, eu continuava no centro exato do círculo de luz. Eu
tentava correr mais rápido, mas não adiantava. Nunca fui um bom atleta. Eu até
caminho bem, se tenho que caminhar, mas correr e fazer atividades físicas não é
a minha praia. Estranhamente o que mais me incomodava é que aquilo não fazia
barulho nenhum. Meus pés faziam. Minha respiração pesada fazia. Mas aquilo não,
então não era um helicóptero ou um avião qualquer. Eu corri até não aguentar mais,
o que não era muita coisa, é bem verdade. Até que cai.
Quando
eu cai, eu caí fora da estradinha de terra. Caí de um barranco, no mato. Por um
segundo, apenas um segundo, a luz não me alcançou. O mato me protegeu. Minhas
mãos doíam por ter tentado aparar a queda. Minhas pernas doíam por causa do
esforço e minha barriga doía por causa da corrida. Eu via a luz me procurando,
o vulto imenso e escuro tampando as estrelas, com um facho de luz varrendo o
mato. Eu fiquei bem quietinho no mato onde eu havia caído. Acho que estava
chorando, não tenho muita certeza. Até que eu senti... Alguma coisa... Não sei
direito o que é. Era quase como se fosse uma pressão na minha cabeça. Mas não
na minha cabeça mesmo. No meu cérebro. Na minha mente. E então eu desmaiei.
Quando
eu acordei, eu não estava com dor nenhuma. Estava em uma cama de metal duro.
Parecia aquelas de hospital, só que sem o colchão e as grades. Uma chapa de
metal. Eu pulei fora da cama sem demora. Minhas roupas ainda estavam rasgadas
onde a queda havia rasgado, mas não estava machucado. Eu olhei ao redor e vi o
céu estrelado por uma janela. Tinha uma... Bom, eu achava que era uma porta. Só
que circular e com desenhos gravados. Os mesmos desenhos seguiam pela parede.
Pareciam os desenhos que eu vi na parte egípcia do museu, só que eram
diferentes. Mais detalhados, eu acho. Eu cai no chão de susto quando vi que a
chapa de ferro onde eu estava deitado estava flutuando no ar. Passei a mão em
baixo dela, de todas as formas que consegui pensar e não senti nada. Quando eu
empurrei ela, ela foi até a parede, como se nada estivesse segurando e bateu na
parede, fazendo um barulho alto de metal contra metal, mas não caiu. Continuou
flutuando exatamente na mesma altura.
Agora,
eu acho que o que fiz em seguida foi um erro, mas na hora não me ocorreu o que
poderia estar acontecendo de verdade. Eu fui na janela. Eu vi um... Planeta. Eu
acho. Só que verde. Tipo o verde que a gente vê na Amazônia, nas fotos da Nasa.
Um verde que devia ser floresta. Mas eu não vi água. Não vi o azul da frase do
astronauta lá. Aquele que disse “A Terra é azul”. Esse planeta era verde. Todo
verde. Eu tomei um susto quanto tocaram no meu ombro e tomei um susto ainda
maior quando olhei para ver o que era.
Tinha
uma... Coisa... Humanoide já que tinha dois braços e duas pernas. Mas era mais
alto do que eu. Tinha pelo menos dois metros e meio, quando eu paro para
pensar. Não tinha nariz nem boca na cabeça. A cabeça era um tanto quanto
alongada. Os olhos eram azuis e de um formato estranho. Os olhos brilhavam na
penumbra do quarto. Eu tinha a impressão de que saía fumaça dos olhos. A pele
dele era cinzenta e, quando eu estiquei a mão para tocar, fria. Ele estava
vestindo o que parecia ser uma armadura dourada. Os joelhos dobravam para trás,
como o calcanhar dos animais. Ele usava alguma coisa como sapato. Usava uma
capa branca. Usava alguma coisa nas mãos, que, eu percebi logo depois. Tinham
só três dedos. Um polegar e dois dedos alongados e finos. Da grossura do meu
dedo médio, eu acho. Mas bem mais comprido.
“Não
era para você ter acordado”. Eu senti aquela pressão na cabeça de novo. Era a
minha voz na minha cabeça, mas o pensamento não era meu. Era estranho. Muito estranho.
Tudo estava sendo estranho.
-
Onde eu estou? – Eu perguntei para a criatura.
“Não
adianta eu lhe dizer se você não tem capacidade de compreender.” Era a minha
voz de novo. Como se eu mesmo estivesse pensando naquilo. Minha cabeça tinha
começado a doer. “Durma. Está tudo bem. Confie em mim.” Eu tenho certeza que
cheguei a abrir a boca para dizer que eu não ia confiar em um ET que havia me sequestrado,
mas eu apaguei.
Quando
acordei, estava em casa. Minha casa estava um nojo. Como se a empregada não
viesse há muito tempo, o que era um absurdo, porque ela havia ido lá há dois
dias. Meu celular estava do meu lado com a bateria descarregada. Eu fui ligar o
computador assim que me dei conta de onde estava, mas ele não ligou. Tentei
ascender a luz, mas também estava fora. Excelente hora para uma queda de luz.
Fui até a cozinha e abri a geladeira. Vazia. Merda. Tinha certeza que ainda
tinha alguma coisa para comer. Peguei a minha chave e saí do apartamento onde
eu morava, na Portuguesa. Pretendia dar uma corrida na padaria para comprar
alguma coisa para comer. Estava morrendo de fome e, com uma verificada rápida,
vi que pelo menos o ET não tinha me roubado. Seria o cúmulo ser assaltado por um
ser de outro planeta.
Assim
que pus o pé na rua, um garotinho, filho da minha vizinha (não a que saía
comigo, a outra) começou a gritar.
-
Mãe! Ele voltou! – Criança estúpida. Eu ignoro ele e vou na padaria. Acabo
almoçando, porque parece que eu dormi demais. Quando eu volto para casa, minha
mãe estava na porta, chorando. Quando ela me viu, saiu correndo e me abraçou.
Eu não estava entendendo nada.
Depois
que todo mundo se acalmou, eles me falaram que eu estava sumido há seis meses,
o que era um absurdo. No máximo um dia. Perguntaram onde eu estava e eu
respondi. Obviamente não me levaram a sério. Tive que ir na polícia prestar
esclarecimentos sobre o meu sumiço, mas eles também não acreditaram em mim.
Acabaram falando para a minha mãe que eu tive um colapso nervoso devido ao
estresse. Ninguém acredita em mim. Conforme as semanas passaram, eu vi de
relance, na loja de jogos do Ilha Plaza o ET. Quando eu entrei e perguntei, ele
me disse que era um Protoss. Comprei o jogo. Star Craft II era o nome. Fiquei
completamente abismado com a semelhança. Havia um ou outro detalhe diferente,
mas a essência era a mesma. Quando eu falei para a minha mãe, ela me mandou
voltar para o psicólogo. Desnecessário dizer que ele também não acreditou.
Hoje
eu percebi que eu consigo mover objetos pequenos com o meu pensamento. De
alguma forma eu sei que não vou conseguir fazer isso com ninguém perto. De
noite, eu sonho com aqueles olhos azuis. Todas as noites eu acordo assustado
com a impressão de que tem alguém no quarto. Eu não sei quanto tempo ainda vou aguentar
Se alguém ler isso e souber como me ajudar, por favor. Eu preciso que alguém
acredite em mim. Eu não vou conseguir suportar isso sozinho. Por favor.
Qualquer um. Eu sei que eles estão de olho. Socorro.
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