terça-feira, 13 de novembro de 2012

Um pedido de ajuda


                Eu sei que ninguém vai acreditar nisso. Eu mesmo quase não acredito. Assim, da boca para fora, muita gente diz que acredita... Mas eu percebi os olhares de condescendência que me lançam quando eu conto isso. Exceto por alguns malucos na internet que tentavam até marcar encontros comigo para procurar eventuais marcas ou cicatrizes. Mesmo quando eu afirmava não ter marca nenhuma. Fanáticos. Eu estava muito bem servido: ou me achavam maluco, ou os malucos me achavam são. Bom... Eu não deveria julgar eles. Estou fazendo exatamente o que os outros fazem comigo. Vai que algum deles é uma pessoa equilibrada? Vai que eu só estou com medo de tudo o que eu vi? Eu pesquisei na internet e vi que a maioria das pessoas não se lembra quando acontece algo do gênero... Mas eu me lembro. Lembro de tudo.
                Estava eu andando de noite, voltando para a Ilha do Governador. Eu sabia que era distante, mas minha moto havia quebrado. Deixei ela na casa de um amigo e vim andando mesmo, a despeito da insistência para que eu dormisse lá. O caminho de Tubiacanga até a Ilha era longo. Porra, Tubiacanga ficava na Ilha, mas era afastado. Era a nossa pequena área rural. A gente sempre brincava falando que ficava no Acre, em Atlântida ou em Lemúria... Nos lugares esquecidos por Deus e o mundo. A gente falava que eles eram isolados assim como o resto do Rio falava que a Ilha era isolada. A última kombi já tinha ido, então ou eu ficava lá ou andava. Andava bastante. Como já disse eu resolvi andar. Desculpem eu ficar me repetindo. Minha cabeça não anda legal desde aquele dia.
                Eu estava andando na estrada de terra que levava para as Canárias. Mato de um lado, mato do outro. Estava escuro porque era lua nova. Ou era minguante. Não lembro direito. Só sei que estava muito pequena. Eu já estava andando há mais de uma hora, resmungando sobre qualquer que fosse o motivo que tinha levado o pai do meu amigo a levar o carro com ele. Até que uma luz forte começou a aparecer. Eu achei que fosse um carro. Até esperava por uma carona, já que a luz parecia estar vindo de trás. Vai que o Francisco conseguiu o carro do vizinho emprestado? Francisco é o nome do meu amigo...
                Eventualmente eu olhei para trás, porque não estava ouvindo barulho de carro, mas não tinha nada diretamente atrás de mim. Mas tinha alguma coisa voando. Ela planava na verdade. Só com uma luz branca me iluminando. Eu não consegui ver direito como era, porque a luz tampava a minha visão. Mas eu vi alguns reflexos dourados quando a coisa se moveu para cima de mim. Eu estava no meio de um círculo de luz. Meu coração estava disparado. Eu sempre disse que acreditava em vida fora da Terra, mas nunca acreditei que fosse ver um dia. Nunca levei muito a sério as histórias sobre abduções e tal. Minha boca estava seca e eu comecei a correr. De início eu corri pela estrada mesmo, desesperado, mas por mais que o chão se movesse sob os meus pés, eu continuava no centro exato do círculo de luz. Eu tentava correr mais rápido, mas não adiantava. Nunca fui um bom atleta. Eu até caminho bem, se tenho que caminhar, mas correr e fazer atividades físicas não é a minha praia. Estranhamente o que mais me incomodava é que aquilo não fazia barulho nenhum. Meus pés faziam. Minha respiração pesada fazia. Mas aquilo não, então não era um helicóptero ou um avião qualquer. Eu corri até não aguentar mais, o que não era muita coisa, é bem verdade. Até que cai.
                Quando eu cai, eu caí fora da estradinha de terra. Caí de um barranco, no mato. Por um segundo, apenas um segundo, a luz não me alcançou. O mato me protegeu. Minhas mãos doíam por ter tentado aparar a queda. Minhas pernas doíam por causa do esforço e minha barriga doía por causa da corrida. Eu via a luz me procurando, o vulto imenso e escuro tampando as estrelas, com um facho de luz varrendo o mato. Eu fiquei bem quietinho no mato onde eu havia caído. Acho que estava chorando, não tenho muita certeza. Até que eu senti... Alguma coisa... Não sei direito o que é. Era quase como se fosse uma pressão na minha cabeça. Mas não na minha cabeça mesmo. No meu cérebro. Na minha mente. E então eu desmaiei.
                Quando eu acordei, eu não estava com dor nenhuma. Estava em uma cama de metal duro. Parecia aquelas de hospital, só que sem o colchão e as grades. Uma chapa de metal. Eu pulei fora da cama sem demora. Minhas roupas ainda estavam rasgadas onde a queda havia rasgado, mas não estava machucado. Eu olhei ao redor e vi o céu estrelado por uma janela. Tinha uma... Bom, eu achava que era uma porta. Só que circular e com desenhos gravados. Os mesmos desenhos seguiam pela parede. Pareciam os desenhos que eu vi na parte egípcia do museu, só que eram diferentes. Mais detalhados, eu acho. Eu cai no chão de susto quando vi que a chapa de ferro onde eu estava deitado estava flutuando no ar. Passei a mão em baixo dela, de todas as formas que consegui pensar e não senti nada. Quando eu empurrei ela, ela foi até a parede, como se nada estivesse segurando e bateu na parede, fazendo um barulho alto de metal contra metal, mas não caiu. Continuou flutuando exatamente na mesma altura.
                Agora, eu acho que o que fiz em seguida foi um erro, mas na hora não me ocorreu o que poderia estar acontecendo de verdade. Eu fui na janela. Eu vi um... Planeta. Eu acho. Só que verde. Tipo o verde que a gente vê na Amazônia, nas fotos da Nasa. Um verde que devia ser floresta. Mas eu não vi água. Não vi o azul da frase do astronauta lá. Aquele que disse “A Terra é azul”. Esse planeta era verde. Todo verde. Eu tomei um susto quanto tocaram no meu ombro e tomei um susto ainda maior quando olhei para ver o que era.
                Tinha uma... Coisa... Humanoide  já que tinha dois braços e duas pernas. Mas era mais alto do que eu. Tinha pelo menos dois metros e meio, quando eu paro para pensar. Não tinha nariz nem boca na cabeça. A cabeça era um tanto quanto alongada. Os olhos eram azuis e de um formato estranho. Os olhos brilhavam na penumbra do quarto. Eu tinha a impressão de que saía fumaça dos olhos. A pele dele era cinzenta e, quando eu estiquei a mão para tocar, fria. Ele estava vestindo o que parecia ser uma armadura dourada. Os joelhos dobravam para trás, como o calcanhar dos animais. Ele usava alguma coisa como sapato. Usava uma capa branca. Usava alguma coisa nas mãos, que, eu percebi logo depois. Tinham só três dedos. Um polegar e dois dedos alongados e finos. Da grossura do meu dedo médio, eu acho. Mas bem mais comprido.
                “Não era para você ter acordado”. Eu senti aquela pressão na cabeça de novo. Era a minha voz na minha cabeça, mas o pensamento não era meu. Era estranho. Muito estranho. Tudo estava sendo estranho.
                - Onde eu estou? – Eu perguntei para a criatura.
                “Não adianta eu lhe dizer se você não tem capacidade de compreender.” Era a minha voz de novo. Como se eu mesmo estivesse pensando naquilo. Minha cabeça tinha começado a doer. “Durma. Está tudo bem. Confie em mim.” Eu tenho certeza que cheguei a abrir a boca para dizer que eu não ia confiar em um ET que havia me sequestrado, mas eu apaguei.
                Quando acordei, estava em casa. Minha casa estava um nojo. Como se a empregada não viesse há muito tempo, o que era um absurdo, porque ela havia ido lá há dois dias. Meu celular estava do meu lado com a bateria descarregada. Eu fui ligar o computador assim que me dei conta de onde estava, mas ele não ligou. Tentei ascender a luz, mas também estava fora. Excelente hora para uma queda de luz. Fui até a cozinha e abri a geladeira. Vazia. Merda. Tinha certeza que ainda tinha alguma coisa para comer. Peguei a minha chave e saí do apartamento onde eu morava, na Portuguesa. Pretendia dar uma corrida na padaria para comprar alguma coisa para comer. Estava morrendo de fome e, com uma verificada rápida, vi que pelo menos o ET não tinha me roubado. Seria o cúmulo ser assaltado por um ser de outro planeta.
                Assim que pus o pé na rua, um garotinho, filho da minha vizinha (não a que saía comigo, a outra) começou a gritar.
                - Mãe! Ele voltou! – Criança estúpida. Eu ignoro ele e vou na padaria. Acabo almoçando, porque parece que eu dormi demais. Quando eu volto para casa, minha mãe estava na porta, chorando. Quando ela me viu, saiu correndo e me abraçou. Eu não estava entendendo nada.
                Depois que todo mundo se acalmou, eles me falaram que eu estava sumido há seis meses, o que era um absurdo. No máximo um dia. Perguntaram onde eu estava e eu respondi. Obviamente não me levaram a sério. Tive que ir na polícia prestar esclarecimentos sobre o meu sumiço, mas eles também não acreditaram em mim. Acabaram falando para a minha mãe que eu tive um colapso nervoso devido ao estresse. Ninguém acredita em mim. Conforme as semanas passaram, eu vi de relance, na loja de jogos do Ilha Plaza o ET. Quando eu entrei e perguntei, ele me disse que era um Protoss. Comprei o jogo. Star Craft II era o nome. Fiquei completamente abismado com a semelhança. Havia um ou outro detalhe diferente, mas a essência era a mesma. Quando eu falei para a minha mãe, ela me mandou voltar para o psicólogo. Desnecessário dizer que ele também não acreditou.
                Hoje eu percebi que eu consigo mover objetos pequenos com o meu pensamento. De alguma forma eu sei que não vou conseguir fazer isso com ninguém perto. De noite, eu sonho com aqueles olhos azuis. Todas as noites eu acordo assustado com a impressão de que tem alguém no quarto. Eu não sei quanto tempo ainda vou aguentar  Se alguém ler isso e souber como me ajudar, por favor. Eu preciso que alguém acredite em mim. Eu não vou conseguir suportar isso sozinho. Por favor. Qualquer um. Eu sei que eles estão de olho. Socorro.

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