O Mundo onde Destino os havia largado era primitivo, para dizer o mínimo. Havia tronos. Cada um deles simples de uma forma particular. Destino havia se sentado no centro. Seus aspectos definidos do início. Alexia podia ver a magia com seus olhos verdes. Podia sentir o poder. Inspirou profundamente e ergueu a mão. Sua vida a definindo. Era um momento de mudança. Invejou a velocidade de Ayira. Como se não houvesse nenhuma dúvida em seu coração, ela se sentou em um dos tronos, um dos dois mais distantes do Destino.
Seu trono se transformava. Perdia a simplicidade. Sua própria aparência se modificava enquanto o trono se retorcia em madeira viva, crescia sem controle, livre. Ela já era uma Ninfa. Já era uma fada. Os espinhos argênteos que brotavam de seu retorcido trono mostravam seu domínio sobre elas.
A mão estendida de Alexia se fecha sob o domínio da Magia. Esse sempre fora seu diferencial. Sangue e morte eram um domínio de todos, mas apenas ela conhecia a magia. Sentia seu poder crescendo.
O próximo foi Krieger e, como filho do Deus da Guerra, não tinha como escolher diferente. Ele caminhou, resoluto em direção a um trono, do lado esquerdo de Destino. Quando ele se sentou, o trono mudou. Lâminas e pontas, farpas e sangue. Metal. Sua aparência cheia de cicatrizes sendo coberta por uma pesada armadura negra. Cravos surgiam e sua imensa espada crescia ainda mais, infundida com a própria essência da violência. Sua musculatura já inchada, cresce ainda mais, a humanidade de sua aparência se diluindo em puro poderio físico.
O medo roça a mente de Alexia quando ela se percebe sozinha. Duuf estava sentado, mas não possuía um trono. Estava sentado sobre uma nuvem tempestuosa. Ele seria o Deus dos Dragões, assim como seu pai o era. Ela via o próprio tempo se dobrando, conforme percebia Duuf como um Grande Ancião Dracônico e como um simples filhote, recém saído do ovo. Todos haviam se sentado. Cada um honrando o próprio pai com suas escolhas. Filhos diletos de pais longínquos.
Mas ela não tinha esse direito. Não poderia escolher o acento de Destino. Ela mesma nunca acreditou nisso e seu próprio pai, o próprio Destino, manipulava e tramava, mudando sua própria sorte. Ela não teria essa facilidade. Em suas mãos, tinha o domínio da magia. Isso sempre fora dela. Não mudaria agora. Sua face não traía seus pensamentos. Sua aura de confiança parecia mostrar que ela havia deliberadamente deixado todos escolherem seus aspectos antes de se sentar no seu lugar de direito: à direita de Destino. Ironicamente, como se esse fosse o seu destino.
Ao se sentar, seu próprio trono cintila. Ela percebe o influxo de poder. Conforme seus olhos se fecham e os nós de seus dedos se tornam brancos ao apertar os braços do trono ela sente a infinidade de possibilidades. Um aliado próximo de seu trono vem com rapidez. Junto à Magia, ela se torna Deusa do Conhecimento. Esse era seu lado mais elevado. Porém seu lado sombrio cobra seu preço e ela percebe a escuridão se aproximando. Sente as presas novamente surgindo e, quando abre os olhos, estes refletem a imensidão estrelada de um céu desconhecido. A Noite era novamente seu domínio. Sorri ao se lembrar das longas viagens em Buracos Portáteis. Sorri ainda mais quando lembra das rápidas viagens cruzando a imensidão continental em seu teleporte sombrio. Sente sua pele se enrijecendo quando se lembra das desagradáveis aventuras ao relento. Ela era uma mulher das Cidades. A Deusa das Cidades. E junto com elas, do Comércio. Já podia imaginar o mundo cercado e entrecortado por imensas rotas ligando uma cidade à outra. Sorri, sentindo-se completa. Ela abre seus olhos estrelados. Nenhum de seus amigos tinha mantido exatamente a própria aparência. Mas ela… Sem dúvida ela foi quem se manteve mais próxima.
Ayira estava com um aspecto muito mais selvagem do que jamais possuiu. Ela poderia lhe causar problemas. Duuf parecia monstruoso e ausente. Estranho. Krieger tinha em seus olhos um brilho que antes o possuía apenas nos mais sangrentos embates. Todos seriam problemas. Ela entendia agora o Destino. Entendia sua carga.
Destino, por sua vez, apenas desaparece. Ele havia conseguido o que desejava. Era um Overgod. Um Deus Supremo. Apesar da criação não ser dele. Alexia é a primeira a se levantar do trono. O Conhecimento inflando sua mente. Ela simplesmente sabia tudo o que as pessoas desse plano sabiam. Cada grande segredo. Cada pequena intriga. Sua mente se expandia. Poucas cidades no plano. Uma única lua. Isso iria mudar. Sua mente busca mais conhecimento. Ela abre seus olhos estrelados. A Noite eram seus olhos. As estrelas, suas representantes. A Lua… Não. A Luz não era dela. Ela sentia uma pequena presença divina. Evanescendo. Os deuses estavam mortos, mas alguns de seus símbolos se mantinham. A Lua e o Sol eram alguns deles. Algumas pequenas cidadelas.
Isso seria resolvido. Ela desaparece da sala. Imergiu na noite. Sumiu no céu noturno. Ela era o céu noturno. Era hora de demonstrar a esse povo o que era realmente um deus. Podia começar a sentir a presença de seus antigos aliados. Tinha certeza de que seu plano iria chamar a atenção.
Alexia não mais estava na sala dos tronos. Ela era a noite. Ela era a magia. E misturando os dois, a lua some do céu. O mar é o primeiro a sentir a mudança, subindo para a terra e devastando as cidades costeiras. Antes que ele avançasse demais uma nova lua surgiu. Menor do que a outra, mas ainda assim, refreando o mar. E logo depois, surgiu outra. E outra. E outra. Até que oito luas estivesse nos céu. Cada uma com uma cor. Cada uma com uma regência. As oito escolas de magia. Advinhação era branca. Necromancia era negra. E cada lua tinha uma coloração. Cada lua tinha uma Escola de Magia. Porque a Deusa da Noite era a Mestra da Magia e seus domínios eram fortes. Ela vê o mar se arrumando, se organizando. As correntes marítimas partidas, mas novamente se formando. Diferentes. Caóticas. Traiçoeiras. E então ela se lembra. E ao se lembrar, ele surge.
Madeira Negra e Ossos de Dragão. Seu navio. Seu pirata. Para ele, o domínio do mar. E em sua mente, a presença de Alexia. O Deus do Mar era seu pirata e sabia que o era por concessão de Alexia e, em última instância, de Destino. Alexia pediu para que controlasse o pior do mar, mas que era seu domínio e ela não pretendia se envolver. Ela sabia, como Deusa do Conhecimento, que as luas tornariam o mar violento e caótico. Com oito forças gravitacionais puxando o mar em diferentes direções. Errático e perigoso. Mas agora isso não era problema seu. Sentiu quando seus aliados começaram seus próprios projetos, sentiu, como Deusa das Cidades que Ayira havia depositado sua cidade no que viria a ser o Centro do Mundo. Alexia influenciava o povo para que desenvolvessem estradas e comércio. E a cidade de Ayira era o coração. Alexia era reverenciada por uma miríade de povos. Os apaixonados a buscavam pela noite. Os sábios pelo conhecimento. E os magos por seu poder. Via o culto dos outros deuses crescendo. Pegou então seus oito primeiros sacerdotes e os elevou. Mais fracos do que seu Pirata, mas cada um deles um deus. Cada um deles uma Escola. E os enviou para incentivarem a magia.
Para seu mais fiel seguidor, seu clérigo, ela o elevou a seu representante direto. Foi seu sumosacerdote por todo o período da sua vida. Quando morreu, ela o envolveu na noite e o elevou. Ele era o Deus da Sombra, divindade dos ladrões e o braço de Alexia no submundo.
Logo após a elevação de seu clérigo, sentiu os olhos fieis de seu cavaleiro. Comportamento exemplar. Fiel até o fim. Mas em sua memória, um episódio se marcava com garras de ferro. Então, ele também foi elevado. Ele foi o Primeiro Vampiro. Pai dos mortos vivos, e fez seus filhos se devotarem ao avanço da civilização, à sua proteção. E criou o costume de se animar os corpos dos mortos para usar como tropas de choque e mão de obra. Deixando os vivos para assuntos da mente. Ela sentia que ele não ficara feliz, mas o vampirismo mudou seu pensamento com o passar dos anos. Ele viu o que era bom.
Viu quando a magia foi usada em guerras. Viu quando cidades foram citiadas para que crescessem depois. Viu quando o comércio crescia com a caça dos dragões e as diversas batalhas. Viu a cidade avançar sobre o selvagem e a raiva de Ayira. Mas fora ela a trazer a Capital. No seu tempo livre caçou sistemativamente todos os sacerdotes dos antigos deuses. Achou os cadáveres dos deuses que possuíam seus aspectos e os absorveu, tornando-os parte de si. Viu outros deuses menores surgindo, patrocinados por seus antigos aliados. E viu o que era bom. Seu domínio era seguro e constante. Eras se passavam por seus olhos estrelados. E ela sabia tudo o que ocorria sob as luas e sob as estrelas. Porque seu era o domínio da noite e do conhecimento. Ela era adorada entre todas as raças e se sentia segura, pois não tinha escolhidos e nem foco em alguma espécie.
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